quinta-feira, julho 29, 2010

Noticias da Covilhã, desta semana com varias noticias da nossa Aldeia.

Emigrantes transformam todos os dias da semana em domingo

NOTICIAS DA COVILHÃ DE  2010-07-28

Já começaram a chegar e até ao final de Agosto dão uma agitação diferente a muitas aldeias. Os filhos da terra, que em tempos foram em busca de melhor vida no estrangeiro, estão de regresso para as habituais férias junto da família.

A fileira de carros de matrícula estrangeira logo à entrada da aldeia, em frente às casas habitualmente fechadas o ano inteiro, agora com as janelas abertas, indiciam que os filhos da Bouça estão de férias na terra que os viu nascer e partir à procura de melhores condições de vida.

Até ao final de Agosto a localidade vive uma agitação diferente do resto do ano. Há mais barulho, mais gente a circular na rua, menos lugares para estacionar e maior movimento no único café. “Nesta altura, durante a semana é sempre domingo, porque há sempre muita gente”, comenta Capitolina Carrola, de 62 anos, ao balcão do café explorado pelos filhos.

“Aqui toda a gente tem família no estrangeiro”, informa. Ela não é excepção. Já teve dois irmãos emigrantes e continua com sobrinhos na Suíça, França e Bélgica. “É uma alegria quando chegam. Melhor mesmo era se cá ficassem todos, porque vê-los partir é triste”, acentua.

Numa terra com muita emigração, a chegada dos que estão fora, a partir do meio de Junho, começa a ser preparada com alguma antecedência. José Maria Reis nota-o no supermercado de que é proprietário. “As famílias, os pais, começam a abastecer as despensas”. “O presunto e os queijos é o que mais se vende, assim como as garrafas de vinho do Porto quando depois vão embora”, conta.

Embora a facturação aumente, já não é como no passado. Até porque nota que os emigrantes já nem sempre vêm um mês inteiro, alguns não regressam todos os anos e noutros casos os filhos deixaram de acompanhar os pais.

Numa altura em que os caixotes do lixo enchem a uma velocidade fora do normal e os consumos disparam, os autocarros também notam que quem partiu um dia da Bouça veio de férias. “Nesta altura é uma dor de cabeça para os autocarros, porque às vezes nem conseguem virar no largo por causa dos carros”, comenta José Maria Reis. “Gostava que fosse sempre assim, não tinha fechado a escola primária”, desabafa.

“O tempo passa rápido quando cá estão”

“Quando eles chegam, as mães têm sempre à espera uma panela de sopa”, diz José Maria, a rir. Guiomar Carrola, de 73 anos, com um filho na Bélgica e outro na Suíça, nem sempre pode fazer isso. “Eles nem me dizem o dia em que chegam para eu não andar preocupada”. Por estes dias quase todas as casas à volta estão de janelas abertas. “É uma alegria olhar à volta à noite e vê-las todas com a luz acesa”, diz Guiomar.

Um mês antes de os filhos, netos e agora o bisneto chegarem começa a preparar-se para os receber. Reforça a arca, a despensa. Começa a pensar nos pratos que eles mais gostam, no que vai cozinhar. “Quando falta um mês para chegarem já começo a contar os dias e as horas. Só que o tempo passa muito rápido quando eles cá estão”, queixa-se Guiomar Carrola.

Os filhos não dizem o dia exacto da chegada, para não andar em cautelas. Mas Guiomar acaba por nem dormir nos dias em que os espera, inquieta. “Quando ouço um carro ando sempre a caminho da porta”, conta, a rir.

Guiomar sabe o que é ver partir e chegar. O marido foi também emigrante, enquanto ela ficou cá a cuidar dos filhos. A primeira vez que foi embora tinha a filha duas semanas de vida. Quando o marido regressou, viu os filhos ir em sentido contrário. “Estou habituada, mas vê-los abalar custo muito na mesma. Não há boca que explique o quanto”, diz, sem conseguir conter as lágrimas. “Gostava que voltassem e tivessem cá um bom futuro, mas sei que cá a vida é difícil, com ordenados muito baixos. Lá já não se ganha como antes, só que sempre é melhor que aqui”, comenta, como que a mentalizar-se para a despedida, dentro de semanas.

A dor incontida de os ver fazer novamente as malas contrasta com a satisfação sentida quando os filhos no estrangeiro se juntam aos que moram perto de si. “Enquanto eles cá estão todos os dias são de festa. A minha casa é sempre uma casa cheia”, sublinha.

Reportagem completa na edição em papel.

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